sexta-feira, 4 de maio de 2018

perto da foz...




faço balanço, a vida foi passageiro
instante, hoje estou entre a luz e o chão
meu andar é hesitante
e a dureza do tempo varreu meu coração
como uma tempestade, agora é nele
rainha a saudade...
minha memória esconde recordações
como grilos que se escondem nas moitas
p'lo verão,
e, no meu coração
as saudades daqueles tempos primeiros,
meus sonhos besouros nos olhos verdes
dos salgueiros...
tudo me lembra a menina em mim cativa
sempre a minha mão escrevendo a afaga
quero-a sempre em mim viva
por mais saudade que me traga

queira ou não queira, quero-lhe demais
a saudade dela se funde em mim
é ela que escuta meus ais
é nela que me vejo nesta aventura
a chegar ao fim
faço o balanço e rememoro
nas horas lentas, mas que se esquivam
vivo, faço e desfaço, mas já não choro,
é inverno a estação a que me abeiro
deixei meus olhos no outono
para trás ficou um sonho inteiro.

corre a tarde a meu lado
a nostalgia habita o meu peito
tudo o tempo tem gerado, tudo me tem dado
mas nem tudo foi bom, nem perfeito.
olho para o dia que vai a meio
a solidão empresta-me um pouco de liberdade
não a temo, não lhe tenho medo
traz-me um gosto doce a saudade.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 2 de maio de 2018

queria saber-te por perto...



trago sentimentos em erupção
conto as horas, como se fosses chegar
sei que não virás ainda, diz-me o coração
cresce em mim a saudade e a vontade
e o milagre espero, da
tua vinda...
já nasceram no jardim os narcisos
e nos campos os lírios
mas não morrem em mim
estas saudades que são martírios.

não sei se o dia de amanhã existe
cortei falas à saudade que persiste
à minha volta em rodopio
forçando aproximação,
se choro ou se rio,
se murcho de melancolia bate forte no coração
e obriga-me a esta emoção
toda a noite, até ao limiar do dia.

conto as horas, como se fosses chegar
com o florir da primavera,
meus olhos fixam-se na ideia de estares presente
e é uma eternidade a espera
e meu corpo sabe que estás ausente,
quantas emoções liberto neste fugir à realidade
queria saber-te por perto
nas constelações deste sonho
de saudade que me suga a alma.

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 1 de maio de 2018

alquimia...



olhando-me há sempre um pássaro negro
pairando sobre mim em observação,
e não sei com precisão
quando me arrancará o coração
desce em vôo picado,
do nada
roça as penas no meu rosto.
cansada, deixo-me presa
em silêncio, ensimesmada.
o entusiasmo esmorece,
os  cabelos branqueiam
e não há como ripostar
acontece,
impossível recuar
e a jovem que era audaz
de pouco é capaz
fixo os olhos sobre o céu cinzento
onde uma ave cinzenta bate asas
suavemente, e penso, como um rio lento,
se ao menos fosse um regato, precipitar-me-ia
pela montanha num suspiro de alívio
serpenteando o corpo d'água fria
numa constante alquimia

mas, uma ave negra virá com voz sonora
e me dirá... está na hora!
aí serei como chuva tardia
que chega, mas parte no dia!
os anos foram-se rapidamente
tomo uma chávena de chá forte
e mais uma vez me deixo à sorte.

natália nuno
rosafogo