sexta-feira, 4 de maio de 2018

perto da foz...




faço balanço, a vida foi passageiro
instante, hoje estou entre a luz e o chão
meu andar é hesitante
e a dureza do tempo varreu meu coração
como uma tempestade, agora é nele
rainha a saudade...
minha memória esconde recordações
como grilos que se escondem nas moitas
p'lo verão,
e, no meu coração
as saudades daqueles tempos primeiros,
meus sonhos besouros nos olhos verdes
dos salgueiros...
tudo me lembra a menina em mim cativa
sempre a minha mão escrevendo a afaga
quero-a sempre em mim viva
por mais saudade que me traga

queira ou não queira, quero-lhe demais
a saudade dela se funde em mim
é ela que escuta meus ais
é nela que me vejo nesta aventura
a chegar ao fim
faço o balanço e rememoro
nas horas lentas, mas que se esquivam
vivo, faço e desfaço, mas já não choro,
é inverno a estação a que me abeiro
deixei meus olhos no outono
para trás ficou um sonho inteiro.

corre a tarde a meu lado
a nostalgia habita o meu peito
tudo o tempo tem gerado, tudo me tem dado
mas nem tudo foi bom, nem perfeito.
olho para o dia que vai a meio
a solidão empresta-me um pouco de liberdade
não a temo, não lhe tenho medo
traz-me um gosto doce a saudade.

natalia nuno
rosafogo

4 comentários:

Maria Rodrigues disse...

Lendo este belíssimo poema, fiquei com a sensação de ser aquele balanço que fazemos quando comemoramos mais um ano de existência, se assim for deixo os meus parabéns.
Natália, os caminhos que percorremos pela vida nem sempre são fáceis e quando o outono chega, muitas vezes as lembranças de outros tempos, são a forma de amenizar as dores e solidão do presente.
Tão nostálgico mas tão belo.
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco

Beijaflor disse...

Olá Natália!

Os rios que te viram nascer crescer viver,
hão-de guardar sempre água para beber,
nunca esquecerão teu maravilhoso ser,
teus poemas são vida que os faz correr!

Que dizer de tao bela poesia! Tao própria! Genuína! Tua poesia entrelaça-se com o cântico dos cânticos! Um oásis dentro do deserto da vida!

Beijinhos do amigo de sempre

orvalhos poesia disse...

Olá querida Maria, agradeço a leitura do poema, de facto passou há pouco mais um ano de vida e as lembranças são como aves que pontuam o céu e me fazem ainda cantar, sonhar e seguir caminho... bem hajas, um grande beijinho, bom fim de semana.

orvalhos poesia disse...

Olá João, teu comentário é um poema, com belíssimas metáforas que desvendam a lonjura e o peso imtemporal que poderão vir a ter nossas poesias, os nossos anseios de alma, a nossa nostalgia, quem sabe para prazer dos vindouros... sonhar é fácil, continuo a descer o rio com vontade de resistir à ordem do tempo, e assim vou continuar até que Deus queira.
Foi muito bom encontrar-te, já fui ao Beija Flor e não consigo deixar comentário, tentarei de novo. Um grande beijinho bom fim de semana amigo.