quinta-feira, 9 de maio de 2013

se ainda pudesse encontrar-te?!





































olho o cimo da nespereira
ali bem rentinho ao céu
esquecer-te não há maneira
este amor ainda é teu...
apagou o lume na lareira
na mesa o pão e o vinho,
vazio... criado à minha beira,
rasto de memória no caminho

o chão dos pés me fugiu
último anseio me abandonou,
arranca de mim um frio,
rimam palavras com furor
e ainda é teu este amor.

para sempre me afastei,
já bastou a vida inteira
olho o cimo da nespereira,
tanta vez para ti olhei
mas o encanto turvou
e eu...já a mesma não sou.

deixo de olhar desisti,
já não podes dar-me nada!
por isso hoje morri
morri nas horas parada
a olhar o céu,
ali por cima da nespereira,
a relembrar tu e eu

se ainda pudesse encontrar-te?!

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 7 de maio de 2013

tenho sede de tempo...



cai a tarde
como fruta madura
e à distância cantam os pinhais
o sol já não arde,
tocam os sinos dando sinais
e eu aqui oculta pela bruma
lembrando tudo,
tanta coisa uma a uma.
lembro o caminho da nascente,
com os risos de então
lembrança sempre presente
que não rejeito...não!

quero ser criatura
de alegria,
trazer à minha noite o luar
e eu e tu ser um só rio
a desaguar no mar...
extingue-se  mais um dia
entre matizes amarelos
tenho sede de tempo
dum tempo primaveril
aquele que me vestia
a alma
e não este, que é prisão
e me corrói o rosto,
e esvazia o coração.

dá-me a mão,
vamos caminhar mais agéis
viver mais intensamente
onde o limite seja o céu
só tu e eu.
por algum tempo havemos de ignorar
o que de nós se perdeu
vivamos mais outro dia,
antes que a noite venha perturbar
ergamos nossa rebeldia

e quando a morte vier
num outro dia qualquer
pairando como um gavião,
sobre nós,
dá-me a tua mão
quando já nada haja para crer,
resta em mim a credulidade...
ainda assim vou sentir a doçura
da tua mão
na minha mão,
e levarei dela saudade.

natália nuno
rosafogo