quarta-feira, 17 de abril de 2024

tal como sou...





hoje é ínfima a queda da chuva
e a solidão serve-me como luva
dão-me asas os pensamentos,
fico a noite inteirinha
a falar comigo,
e à conversa neste abrigo
meu coração bate
sem lamentos.

um simples aguaceiro que cai
passei a noite inteira a olhar-me
e do meu rosto não sai
a ventania a assustar-me

chove agora sem parar
grada a chuva, 
como cabelo branco se amontoa
e de hora em diante
não há dor que não doa

apagam-se as pegadas do caminho
fecho à alma janelas sombrias
o coração se apaga sozinho
os dedos contando os dias. 

natalia nuno
imagem pinterest

um dia de cada vez...



a vida é como chuva que cai
mais fraca, mais forte
tropeça, e num ai,
com sorte
fica limpo o céu 
o sol segue viagem
esquece-se o escuro de breu

e os sonhos continuam
em cada noite um diferente
tal como as nuvens do céu
pernoitam no pensamento,
da gente!

às vezes vem a solidão 
que paira ao sabor do vento
no coração,
e há folhas caídas abandonadas
pessoas sem vida e outras
amadas...

riso e choro a vida tem,
um vai, outro vem, como
ondas bravas que não cansam de bater
é assim a vida, deixai chover

no azar, ou na sorte
um punhado de versos
faz esquecer a morte!
neste mundo de passagem
versos semeei
e de saudade os olhos orvalhei.

natalia nuno
imagem pinterest

quinta-feira, 11 de abril de 2024

o rito de escrever...



há tristeza no olhar 
quando se despede lentamente a vida
e nessa despedida
a saudade se dispõe a regressar
a criar a ilusão de mais um falso dia
de alegria
depois surgem os silêncios obscuros
e os olhos entornam de ansiedade
pensamentos gastos e quebrados
a saudade e,
de novo momentos duros.

há então o rito de escrever
poemas que vão mais longe que o silêncio
afadigados, mas que não servem para nada
nos lábios, ainda há vida por arder
ainda há a palavra, embora agastada

já a força é escassa
a loucura de recordar fracassa,
aumentam os medos e os anos
são outonos nublados, e bolorenta
a solidão dos desenganos

natalia nuno






 

domingo, 7 de abril de 2024

a palavra...

é como dança de ouro
a palavra doce 
ao ouvido sussurrada,
tem o paladar que embriaga
e é como se fosse de mel
embelezada...

espero sempre que a palavra
me traga
o efémero sonho do dia
que me deixe voar como abelha feliz
estender asas até onde o sol irradia

que a palavra seja 
como o vermelho do poente
a fogueira laboriosa da felicidade
a liberdade transparente
poema que entoe a saudade

despenham-se versos da imaginação
a palavra é semente
que arde, em meu coração.



natalia nuno







segunda-feira, 1 de abril de 2024

escrevo à sorte...



tenta-me o impossível
correr atrás das constelações
quando começo a sonhar,
cruzam-se clarões no pensamento
desfraldam-se as palavras
há música no ar...

vivo então a perfeição das horas
ouço o estrondo do trovão
o som da dança das folhagens
o fervor da alma e do coração
e pelos meus olhos passam mil imagens

bom saber que nunca estou só
apesar da solidão me atingir forte,
mergulho nas palavras, enlaço-me, 
dou um nó e,
no papel nevado escrevo à sorte...

natalia nuno

sábado, 30 de março de 2024

Páscoa Feliz

 Para todos os amigos que visitam este meu BLOG.... Um abraço


quarta-feira, 27 de março de 2024

horas de incerteza...


agarrei na palavra
e neste jogo que é a vida,
morria a humanidade
desiludida, 
com tantas vidas por dentro
ouvia a música do vento
que me trazia saudade 

a noite descia, 
e horas de incerteza
me faziam companhia!

outra que também sou
talvez indefesa,
escutava todas as minhas  acções
sepultava as minhas desilusões,
partilhava dos meus sonhos
e atravessava as pontes da minha mente

mas logo a outra que também sou 
mais ardente,
cheia de felicidade
cantava até à desmemória
poemas d' amor e a saudade

assim prendi em mim a palavra
e com solidão e arte
pus-me de parte...
consenti às minhas outras que sou, 
falar, falar, falar
sem escusar-me de as deixar
todas elas em mim habitar.

natália nuno